Prólogo

O ATOR E AS CIDADES

O homem está na cidade
como uma coisa está em outra
e a cidade está no homem
que está em outra cidade

.....................................

A arte do ator é feita de chegadas e partidas, a cada cidade uma nova experiência, em cada uma ele deixa um pouco de si e leva um pouco de tudo: rostos, risos, lágrimas, histórias, vivências, sensações. O trânsito, a mobilidade é a pátria do despatriado ator, vagar entre culturas, costumes e tempos diferentes é sua sina e paixão, pois ele se compõe e recompõe de cada momento. Tolo é aquele que pensa que a arte morre, tem seu lugar determinado por marcas geográficas, por cronologias... a arte foge de todo e qualquer enquadramento, não cabe no mapa, pois é cigana, não (re)conhece fronteiras, ela se constitui a partir do trânsito, do vagabundear do ator, seu veículo. Em sua carne e expressões ela ganha corpo e reflete os rostos de todos os homens de todos os tempos, arguta e criativa, ela mimetiza o mundo e esse seu habitante conturbado, o Homem e é adsorvida por ele.

A 24ª Semana Luiz Antônio traz a criativa itinerância que brota da releitura de grandes clássicos, de personagens que vagaram pelo mundo e foram incorporando os novos tempos, as novas cidades e estéticas. Em seus corações pulsam as lembranças da origem, mas em suas vestes o novo, o arrojado trânsito por locais insondáveis. E como diz o poeta:


a cidade está no homem
quase como a árvore voa
no pássaro que a deixa.

Ferreira Gullar



Evoé! e muita Lu(i)z...



Flávia Marquetti



quarta-feira, 22 de junho de 2011

UM OLHAR APRISIONADO: O GRANDE GRITO

                                                                                    Danielle Aquino


O Grupo Luz e Ribalta (SP) trouxe Macunaíma de volta à sua terra, com um texto que busca resgatar um outro lado da vida de Mário de Andrade, o de diretor do Departamento de Cultura da cidade de São Paulo. Dividida em dois planos: o espiritual, onde habitam Mário de Andrade, Macunaíma e Exu; e o real, onde se encontram duas famílias que as vidas confluem para um mesmo drama, a peça se propõe a resgatar as angústias e frustrações de Mário de Andrade diante da realidade social brasileira, com seus projetos abortados durante o governo de Getúlio Vargas.

O cenário, composto por caixas e objetos que remetem aos recolhidos na Missão de Pesquisa Folclórica feita em 1937/38, nos oferece a imagem do aprisionamento e empobrecimento de um ideal perdido no descaso da burocracia e desconhecimento do valor real da cultura. O mundo “real” encontra-se dividido em dois focos: um à direita e outro à esquerda deste universo habitado pelo espírito de Mário, Macunaíma e Exu, evidenciando a ponte pretendida por Mário, diminuir o abismo entre as classes sociais, representadas, na peça, pela classe alta e a baixa.

A dramaturgia se perde um pouco entre esses dois universos: o de Mário e os das famílias, parecendo não conseguir transpor de um mundo ao outro com naturalidade. São dois mundos estanques que criam um desnível na apresentação, como se fossem estranhos um ao outro. Ao menos, foi o que ocorreu à tarde, quando assisti. Deve-se ressaltar que a platéia, composta por jovens de escolas de segundo grau da cidade, também não contribuiu em nada para a boa realização do espetáculo, irrequieta, barulhenta, sem qualquer respeito pelos atores em cena e, aparentemente, sem nenhuma idéia de quem era Mário de Andrade, Macunaíma e o universo literário abordado, conversaram, falaram ao celular, jogaram objetos uns nos outros, gritaram histericamente por nada...enfim, uma cena triste e lamentável, que nada mais fez que aumentar a dor das reflexões de Mário de Andrade no palco.
O destaque da peça fica por conta do ator que interpreta Macunaíma, que nos fez lembrar a todos de Grande Otelo tanto na aparência quanto na qualidade da interpretação.

 
Flávia Marquetti

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seguidores