Prólogo

O ATOR E AS CIDADES

O homem está na cidade
como uma coisa está em outra
e a cidade está no homem
que está em outra cidade

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A arte do ator é feita de chegadas e partidas, a cada cidade uma nova experiência, em cada uma ele deixa um pouco de si e leva um pouco de tudo: rostos, risos, lágrimas, histórias, vivências, sensações. O trânsito, a mobilidade é a pátria do despatriado ator, vagar entre culturas, costumes e tempos diferentes é sua sina e paixão, pois ele se compõe e recompõe de cada momento. Tolo é aquele que pensa que a arte morre, tem seu lugar determinado por marcas geográficas, por cronologias... a arte foge de todo e qualquer enquadramento, não cabe no mapa, pois é cigana, não (re)conhece fronteiras, ela se constitui a partir do trânsito, do vagabundear do ator, seu veículo. Em sua carne e expressões ela ganha corpo e reflete os rostos de todos os homens de todos os tempos, arguta e criativa, ela mimetiza o mundo e esse seu habitante conturbado, o Homem e é adsorvida por ele.

A 24ª Semana Luiz Antônio traz a criativa itinerância que brota da releitura de grandes clássicos, de personagens que vagaram pelo mundo e foram incorporando os novos tempos, as novas cidades e estéticas. Em seus corações pulsam as lembranças da origem, mas em suas vestes o novo, o arrojado trânsito por locais insondáveis. E como diz o poeta:


a cidade está no homem
quase como a árvore voa
no pássaro que a deixa.

Ferreira Gullar



Evoé! e muita Lu(i)z...



Flávia Marquetti



quinta-feira, 23 de junho de 2011

OLHOS NOS OLHOS COM ZÉ GUILHERME

Oi, Gui! Respondendo às suas duas postagens: a referente ao espetáculo da Sara Antunes e a da Cia dos Pés. Embora as propostas sejam completamente diversas, ambos trazem um ponto em comum: a fragmentação do texto que, para alguns, não se configuraria em uma “verdadeira dramaturgia”. No caso do Casca de Nós, em virtude do espaço utilizado, a fragmentação é ainda maior do que em Negrinha. Mas essa proposta contemporânea de estilhaçar o texto e não oferecer uma estrutura dramatúrgica nos moldes convencionais, digamos... com começo, meio e fim evidentes, tem como prerrogativa forçar o espectador a sair de sua costumeira passividade diante da encenação. Toda obra de arte, que busca uma linguagem nova, visa uma reação/reflexão do público, o formato escolhido para cada espetáculo, se lírico, delicado, poético ou agressivo (que não foi o caso dos dois em questão) vai do grupo e mesmo o grau dessa fragmentação também pode variar, em Aqueles Dois, da Cia Luna Lunera, também houve fragmentação, inclusive na representação dos personagens (4 atores se revezando para interpretar 2 personagens), escolhas e criações que exigem, sempre, um domínio absoluto da encenação, pois devido à fragmentação do texto, o ator tem que ser excepcionalmente bom e nós tivemos o prazer de ver isso em todos esses espetáculo. Evoé!!! Filhos de Dioniso, vocês nos encantam.
Flávia Marquetti

2 comentários:

  1. E em todos estes que citou somos surpreendidos. O espetáculo não permanece o mesmo do começo ao fim, coisa que ocorre muito por aí. A cada momento nosso olhar se surpreende com lindas imagens ou somos pegos por novas sensações.

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  2. Legal que os gestos/ações são bem cuidados, tão bem desenhados que parecem mesmo uma pintura, aliados ao cenário/iluminação/clima se eternizam enquanto duram, até vir um gesto novo com igual efeito.

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