Prólogo

O ATOR E AS CIDADES

O homem está na cidade
como uma coisa está em outra
e a cidade está no homem
que está em outra cidade

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A arte do ator é feita de chegadas e partidas, a cada cidade uma nova experiência, em cada uma ele deixa um pouco de si e leva um pouco de tudo: rostos, risos, lágrimas, histórias, vivências, sensações. O trânsito, a mobilidade é a pátria do despatriado ator, vagar entre culturas, costumes e tempos diferentes é sua sina e paixão, pois ele se compõe e recompõe de cada momento. Tolo é aquele que pensa que a arte morre, tem seu lugar determinado por marcas geográficas, por cronologias... a arte foge de todo e qualquer enquadramento, não cabe no mapa, pois é cigana, não (re)conhece fronteiras, ela se constitui a partir do trânsito, do vagabundear do ator, seu veículo. Em sua carne e expressões ela ganha corpo e reflete os rostos de todos os homens de todos os tempos, arguta e criativa, ela mimetiza o mundo e esse seu habitante conturbado, o Homem e é adsorvida por ele.

A 24ª Semana Luiz Antônio traz a criativa itinerância que brota da releitura de grandes clássicos, de personagens que vagaram pelo mundo e foram incorporando os novos tempos, as novas cidades e estéticas. Em seus corações pulsam as lembranças da origem, mas em suas vestes o novo, o arrojado trânsito por locais insondáveis. E como diz o poeta:


a cidade está no homem
quase como a árvore voa
no pássaro que a deixa.

Ferreira Gullar



Evoé! e muita Lu(i)z...



Flávia Marquetti



segunda-feira, 20 de junho de 2011

O OLHAR SINUOSO DE NELSON RODRIGUES

                                                                                         Lívia Cabrera

                                                                                         Lívia Cabrera

A Cia Mênades & Sátiros, de Presidente Prudente, apresentou na noite de domingo a peça A Serpente, de Nelson Rodrigues. Com elenco jovem, a Cia optou por uma montagem tradicional, com poucas ousadias na encenação. Algumas das escolhas, sobretudo na iluminação, conseguiram efeitos interessantes, como o uso da lanterna em diversos momentos: focada no rosto dos personagens, postados logo à entrada da platéia recebendo os espectadores/convidados, fundindo a foto clássica de casamento às das lápides; no decorrer da peça, o uso das lanternas aludia a um possível inquérito policial, da mesma forma, a figura do “padre”, logo no início da representação, fotografando a platéia e os noivos, mescla a documentação do enlace matrimonial e do crime. O uso de um figurino de cor roxa para as duas irmãs e noivas reforça e antecipa o tom fúnebre destes enlaces. A cama dos casais, que se juntam e se transformam em uma única cama para o triangulo, Lígia/Paulo/Guida, funcionou bem, mas a solução para o salto pela janela não teve a mesma sorte.

Nelson é um texto sempre perigoso, requer um elenco maduro em todos os sentidos, embora as duas jovens que interpretam Lígia e Guida tenham se empenhado e conseguido uma boa atuação, faltou a elas o peso, a densidade que duas atrizes mais “velhas” teriam alcançado. Mas quem gosta de montar Nelson... gosta e a Cia tem tempo e vontade para chegar a esse amadurecimento.


Flávia Marquetti

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