Prólogo

O ATOR E AS CIDADES

O homem está na cidade
como uma coisa está em outra
e a cidade está no homem
que está em outra cidade

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A arte do ator é feita de chegadas e partidas, a cada cidade uma nova experiência, em cada uma ele deixa um pouco de si e leva um pouco de tudo: rostos, risos, lágrimas, histórias, vivências, sensações. O trânsito, a mobilidade é a pátria do despatriado ator, vagar entre culturas, costumes e tempos diferentes é sua sina e paixão, pois ele se compõe e recompõe de cada momento. Tolo é aquele que pensa que a arte morre, tem seu lugar determinado por marcas geográficas, por cronologias... a arte foge de todo e qualquer enquadramento, não cabe no mapa, pois é cigana, não (re)conhece fronteiras, ela se constitui a partir do trânsito, do vagabundear do ator, seu veículo. Em sua carne e expressões ela ganha corpo e reflete os rostos de todos os homens de todos os tempos, arguta e criativa, ela mimetiza o mundo e esse seu habitante conturbado, o Homem e é adsorvida por ele.

A 24ª Semana Luiz Antônio traz a criativa itinerância que brota da releitura de grandes clássicos, de personagens que vagaram pelo mundo e foram incorporando os novos tempos, as novas cidades e estéticas. Em seus corações pulsam as lembranças da origem, mas em suas vestes o novo, o arrojado trânsito por locais insondáveis. E como diz o poeta:


a cidade está no homem
quase como a árvore voa
no pássaro que a deixa.

Ferreira Gullar



Evoé! e muita Lu(i)z...



Flávia Marquetti



sexta-feira, 3 de junho de 2011

Semana Luiz Antônio chega com mais de 20 espetáculos


Sara Antunes em cena de "Sonhos para Vestir"
Cenário-instalação de Analú Prestes. Direção de Vera Holtz


Os “Olhares Múltiplos” conduzem a programação da 23ª Semana Luiz Antônio Martinez Corrêa – Festival de Teatro (SLAMC), em Araraquara, de 17 a 26 de junho. Com realização da Prefeitura de Araraquara - por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Fundart e com a parceria do SESC, SESI, SENAC e Oficinas Culturais Lélia Abramo do Governo do Estado de São Paulo – a SLAMC chega com mais de 20 espetáculos teatrais e uma grande programação complementar.


“A Semana Luiz Antônio tem um significado de importância política e cultural não só para o teatro, pois seu surgimento se dá também com a participação de várias outras linguagens artísticas”, comenta Euzânia Andrade, secretária municipal da Cultura.

“A Semana surgiu na década de 80 como uma atitude de resistência política-cultural por um grupo de artistas das diferentes linguagens, em prol da democracia e da luta para uma política cultural para a cidade de Araraquara, e ela marcou definitivamente a história cultural de nossa cidade. Neste momento podemos refletir sobre a importância da arte nos movimentos políticos e como ela pode contribuir para o desenvolvimento cultural de uma sociedade”, disse a secretária.



O conceito de reflexão desta edição da Semana tem a ideia dos "Olhares Múltiplos", apontando para as formas de ver e ser visto. De acordo com Jorge Okada, gestor de projetos da Secretaria Municipal da Cultura, a palavra “teatro” vem do vocábulo grego “theastai” que significa ver, e “theatron”, é o lugar de onde se vê. “Daí a proposta de se ver em cena a multiplicidade do olhar”, complementa o gestor.


Para tanto, a programação será aberta na sexta-feira (17, às 20h30) com a “A História de Édipo”, recontada de uma maneira contemporânea, na Praça Pedro de Toledo, pelo grupo mineiro Teatro Andante. A história é uma das mais montadas no teatro em todos os países do mundo e, apesar de ser uma história tão antiga, o Teatro Andante procura contá-la de maneira bem moderna, com figurinos contemporâneos, música tocada ao vivo e fogos de artifício.


Além da Praça, diversos outros espaços serão utilizados durante a programação: Teatro Municipal, Teatro Wallace Leal Valentin Rodrigues, teatros do SESC, SESI e SENAC, Prefeitura, Biblioteca Pública Municipal Mário de Andrade e Palacete das Rosas Paulo A.C. Silva.


Além dos espetáculos, a SLAMC traz uma programação complementar, que vai além dos espetáculos agendados: oficina, show, café de investigação, bate-papo e mesas redondas, além da exposição fotográfica “Interiolhar”, de Maribel Santos, com 32 fotos de cenas de teatro, dança e música, no Teatro Municipal (dia 17).

No dia 17, ainda, também haverá o espetáculo “O Horácio”, do dramaturgo alemão Heiner Müller, às 23h59, no saguão do Teatro Municipal, com a X Turma de Teatro, do Centro Universitário Barão de Mauá. O experimento foi criado durante realização da disciplina Interpretação II - Teatro Narrativo, ministrada pelo professor Carlos Canhameiro, com coordenação de Mirian Fontana.


O segundo dia (18) da SLAMC apresenta uma programação intensa, que se inicia às 9h30, no SESC, com Cláudio Dias e Marcelo Souza e Silva, da Cia Luna Lunera (MG), na oficina “O Ator Criador”. São 20 vagas e as inscrições podem ser realizadas na Central de Atendimento do SESC.
Estão reservadas duas atividades na Biblioteca Municipal Mário de Andrade: “Miguilins de Codisburgo”, às 16 horas, e “Personagens de Porão - uma aventura infantil”, às 22 horas (este último destinado a crianças com idade entre 8 e 10 anos; inscrições pelo fone 16 3332-0777).


“Miguilins de Codisburgo” apresenta narrativas de trechos do lírico conto “Campo Geral”, da obra Manuelzão e Miguilim, de João Guimarães Rosa. Composto por adolescentes, com idades entre 13 e 20 anos, o grupo tem contribuído ativamente para a divulgação e preservação da oralidade e da obra de Guimarães Rosa, a partir da narração de fragmentos literários do escritor. O grupo ‘Contadores de Estórias Miguilim’ foi criado em 1996, por Calina da Silveira Guimarães, prima de Guimarães Rosa, com o objetivo de socialização de crianças e jovens da cidade de Cordisburgo (MG), quebrando as barreiras sugeridas pela dificuldade e seletividade da obra do escritor.


Às 20 horas, dois espetáculos distintos, em espaços diferentes: “Aqueles Dois”, com Cia Luna Lunera (MG), no SESC (recomendação etária: 16 anos); e “Baobá”, com Cisne Negro Cia de Dança (SP), no SESI (144 lugares - retirada de convites com uma hora de antecedência no SESI).

“Aqueles Dois” foi criado a partir do conto homônimo de Caio Fernando Abreu e mostra a rotina de uma "repartição" - metáfora para qualquer ambiente inóspito e burocrático de trabalho, revelando o desenvolvimento de laços de cumplicidade entre dois de seus novos funcionários, o que gera incômodo nos demais.

Um Pocket Show Maldito, às 23h59, no Teatro Wallace Leal Valentin Rodrigues, encerra as atividades do sábado.

No domingo (19), um dos destaques é a Cia dos Pés, com o espetáculo “Casca de Nós”, às 16 e 20 horas, nas paredes do prédio da Prefeitura. “Inverteremos o olhar: o público estará deitado no chão da Esplanada das Rosas para garantir a melhor visão do Teatro Físico, que será encenado na parede da Prefeitura”, revela Okada.

O espetáculo é uma abordagem sobre a ocupação sentimental dos espaços, casas, quintais. A casa como uma “casca de nós”, cada uma de um jeito, cada casca com sua história. Depois do espetáculo, às 17h, os atores da Cia do Pés realizam o bate-papo “Dança e Teatro na Vertical” com interessados, no Palacete das Rosas.

A agenda do domingo apresenta o infantil “Zôo-ilógico”, com a Cia Truks (SP), às 11 horas, no SESC (retirada de convites a partir das 9h), show com Sotaque Paulista (Choro das Águas, às 18h, na Praça do Daae).

O espetáculo “A Serpente”, com Mênades & Sátiros Cia de Teatro (Presidente Prudente), às 21 horas, no Teatro Municipal. O texto de Nelson Rodrigues revela o universo de duas irmãs que vivem com seus maridos em quartos vizinhos, no mesmo apartamento presenteado pelo pai. Ambas se envolvem numa paixão repentina e a impossibilidade de viver esse amor as levará a cumprirem destinos incertos.

As atividades da segunda-feira (20) voltam-se para a formação e investigação da cena teatral, com o Café da Investigação nº 1, com Mônica Nador, às 18 horas, no Teatro Municipal; e a mesa redonda “Teatro Musical no Brasil”, com Neyde Veneziano, às 20 horas, na Biblioteca Municipal Mário de Andrade.

Mônica Nador é uma artista plástica que propõe um novo olhar de cor às comunidades periféricas da cidade de São Paulo. Sua participação deve agregar também o público do Território da Arte de Araraquara, que segue até 26 de junho. Já Neyde é especialista em Teatro de Revista e Teatro Musical no Brasil.

Na terça (21), o grupo Luz e Ribalta (São Paulo), com direção de José Renato, apresenta “O Grande Grito”, às 16 horas (para alunos do ensino médio, com agendamento pelo fone 3336-5183) e às 20 horas (retirada de convites a partir das 13h, no Teatro Municipal).

A autora de “O Grande Grito”, Gabriela Rabelo, partiu de fatos reais para contar a história do acervo trazido pela Missão de Pesquisas Folclóricas (excursão ao Norte e Nordeste feita em 1937/38 sob a orientação de Mário de Andrade) e que permaneceu abandonado em um depósito de uma biblioteca pública no bairro da Lapa, em São Paulo.

No meio desses muitos objetos trazidos pela Missão destaca-se uma escultura firmada de Exu, que ganha vida nesse cenário e aprisiona “o espírito” de Mário de Andrade, até que este cumpra a promessa de lhe dar um lugar de honra em São Paulo. Macunaíma vem sempre visitar seu criador e esses três personagens discutem ali uma forma de cada qual retomar seu caminho. Às 18 horas, Gabriela Rabelo é a convidado do Café de Investigação nº 2, no Teatro Municipal.

No dia 22, quarta, a Semana apresenta um espetáculo que não depende do olhar: a platéia será convidada a ouvir a peça radiofônica "A Exceção e a Regra", de Bertold Brecht, na adaptação e direção de Eduardo Montagnari, e assim, ver através da imaginação as cenas da obra alemã. A apresentação será às 18 horas, no saguão do Teatro Municipal, onde na sequência será realizado o Café da Investigação nº 3 com Montagnari.

Dois espetáculos ocupam o horário das 20 horas na quarta “Fontainebleau”, com a Cia Tan-Tan (SP), no Teatro Municipal (retirada de convites a partir das 13h no Teatro); e “Chá das Duas”, com o Grupo Contos e Cantos, no SENAC Araraquara (retirada de convites a partir das 13h no SENAC).

“Fontainebleau” dá continuidade às pesquisas e desenvolvimento do trabalho de palhaço da Cia, divertindo o público com situações cotidianas, improvisações, temas e críticas para uma reflexão e conscientização mundial.

Em “Fontainebleau”, os pintores impressionistas Claude Monéio (palhaço Néio) e Auguste Fenoir (palhaço Feno), saem do atelier e vão para a floresta Fontainebleau em busca de inspiração para pintar. Ao encontrarem a belíssima Fina Arbre (palhaça Fina), disputam o melhor lugar para pintá-la. Fenoir perde a memória e acredita ser, Olavo Bilac, D. Pedro I e Tarsila do Amaral.

O espetáculo “Negrinha”, às 22 horas, no Palacete das Rosas, apresenta Sara Antunes, com direção de Luiz Fernando Marques, num espetáculo em que a reflexão se faz sobre os olhares impregnados de preconceito. Inspirado em texto de Monteiro Lobato, “Negrinha” conta a história de uma menina negra que possui fascínio pelas cores das pessoas. O enredo se passa no século XIX e, através da imaginação da personagem principal, são denunciadas as contradições de sua época. A recomendação etária é apara maiores de 14 anos, sendo a retirada de convites a partir das 13 horas, no próprio Palacete.

Sara Antunes também é atriz do espetáculo da quinta-feira (23): “Sonhos para Vestir”, no Teatro Municipal, às 22 horas. A peça - criada pela própria atriz e também pela artista plástica Analu Prestes – tem direção de Vera Holtz. Aqui, o público volta seu olhar para o lúdico. A peça se passa durante a noite, quando uma mulher insone, em estado de devaneio, tem uma viagem sensorial, e compartilha seu diário e suas cartas com o público. Com lugares limitados (130), os ingressos serão distribuídos a partir das 13 horas, no Teatro. A recomendação etária é para maiores de 14 anos.

Vera Holtz e Analú Prestes tiveram grande contato com o Luiz Antônio Martinez Corrêa, no Rio e em São Paulo. As artistas engrandecem a agenda da SLAMC com a participação do Café de Investigação nº 4, às 18 horas, no saguão do Teatro Municipal.

O Grupo 59 (São Paulo), com direção de Cristiane Paoli Quito, apresenta no Teatro Municipal, “O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá”, às 16 horas. Na história de Jorge Amado, a alegre Andorinha Sinhá nutre um amor incomum pelo mal-humorado Gato Malhado. Juntos, eles tentam superar suas diferenças. A retirada de convites é a partir das 13 horas, no Teatro.

Com 144 lugares, no teatro do SESI, será apresentado “Louise Valentina”, com Simone Spoladore e Felipe Vidal, às 20 horas. A recomendação etária é de 16 anos, sendo a retirada de convites realizada com uma hora de antecedência, no SESI. O espetáculo será apresentado no mesmo horário, também na sexta-feira.

Os alunos do Curso Técnico em Arte Dramática – realizado numa parceria entre a Prefeitura e o SENAC-Araraquara - abrem a programação da sexta (24), com “O Deserto na Alma e a Cidade Paraíso”, na Praça Pedro de Toledo, às 18 horas. A intervenção é posposta a partir da dramatização de alguns textos retirados das histórias do “Sr. Keuner”, de Bertolt Brecht, e frases de Hermann Hesse, na qual se busca uma reflexão sobre o ser humano, a cidade e a miséria. A partir de olhares múltiplos sobre o universo do que é a carência, o espetáculo propõe um diálogo entre as propostas de Brecht para o teatro e a dramaturgia contemporânea.


Às 20 horas, duas outras apresentações: “Valsa nº 6”, com a Cia Labirinto (Matão-SP), no Teatro Wallace Leal Valentim Rodrigues, com 70 lugares (retirada de convites a partir das 13h, no Teatro Wallace), e “Louise Valentina” (citado acima).

“Amor que não Ousa Dizer seu Nome”, com a Cia Filhos de Alfredo (São Paulo) e direção de Milton Morales Filho, fecha a programação da sexta, às 22 horas, no Teatro Municipal. O espetáculo levanta a temática de discriminação em relação ao comportamento homossexual, retratando dois episódios separados por quase um século: o julgamento de Oscar Wilde e a história do Maníaco do Trianon. No palco: o ator araraquarense Alexandre Cruz e também Marcelo Braga. Os lugares são limitados (130) e a retirada de convites será realizada a partir das 13 horas, no Teatro.

No sábado (25), véspera do encerramento da SLAMC, a Praça Pedro de Toledo recebe “Este Lado Para Cima – Isso Não é Um Espetáculo”, com a Brava Cia (São Paulo), às 17 horas. O grupo figura nos maiores festivais de teatro do país, apresentando este espetáculo de rua que fala sobre o poder do mercado e o controle das relações humanas exercido por ele. O tema é discutido com um humor anárquico e revolucionário.

Depois, às 20 horas, no Teatro Municipal, será encenado “Casa/Cabul”, com o Núcleo Experimental de Teatro (São Paulo), com Chris Couto e Sérgio Mastropasqua, e direção de Zé Henrique de Paula. O espetáculo traz o olhar para o testemunho de uma mulher, sobre o conflito do Afeganistão. O misterioso desaparecimento da personagem conhecida com Dona de Casa, uma inglesa entediada, desencadeia uma busca por parte de seu marido e de sua filha, que desembarcam em Cabul. A recomendação etária é para 14 anos, e a retirada de convites é a partir das 13 horas, no Teatro Municipal. “Casa/Cabul” será encenado novamente no domingo, para fechar a programação da Semana.

Um show musical com o grupo Mawaca encerra as atividades do sábado, às 20 horas, no Teatro do SESI. A capacidade é de 144 lugares e os ingressos serão distribuídos uma hora antes da apresentação, no SESI.

A programação da SLAMC se encerra no domingo (26). No Sesc, às 11 horas, será apresentado “E se as Histórias Fossem Diferentes?”, com a Cia Truks (São Paulo). Os ingressos podem ser retirados no Sesc, no dia da apresentação, a partir das 9 horas.

A Cia Tarcio Costa apresenta “Bate Lata e Vira Lata”, às 17 horas, na Praça do Daae, na programação do Choro das Águas, seguido por show musical com Alex Lima, às 18 horas. O espetáculo “Casa/Cabul” encerra a programação às 20 horas, no Teatro Municipal.

A SLAMC conta com o apoio cultural do Banco do Brasil, Novo Hotel Municipal e Bella Capri. Toda a programação é gratuita

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