Prólogo

O ATOR E AS CIDADES

O homem está na cidade
como uma coisa está em outra
e a cidade está no homem
que está em outra cidade

.....................................

A arte do ator é feita de chegadas e partidas, a cada cidade uma nova experiência, em cada uma ele deixa um pouco de si e leva um pouco de tudo: rostos, risos, lágrimas, histórias, vivências, sensações. O trânsito, a mobilidade é a pátria do despatriado ator, vagar entre culturas, costumes e tempos diferentes é sua sina e paixão, pois ele se compõe e recompõe de cada momento. Tolo é aquele que pensa que a arte morre, tem seu lugar determinado por marcas geográficas, por cronologias... a arte foge de todo e qualquer enquadramento, não cabe no mapa, pois é cigana, não (re)conhece fronteiras, ela se constitui a partir do trânsito, do vagabundear do ator, seu veículo. Em sua carne e expressões ela ganha corpo e reflete os rostos de todos os homens de todos os tempos, arguta e criativa, ela mimetiza o mundo e esse seu habitante conturbado, o Homem e é adsorvida por ele.

A 24ª Semana Luiz Antônio traz a criativa itinerância que brota da releitura de grandes clássicos, de personagens que vagaram pelo mundo e foram incorporando os novos tempos, as novas cidades e estéticas. Em seus corações pulsam as lembranças da origem, mas em suas vestes o novo, o arrojado trânsito por locais insondáveis. E como diz o poeta:


a cidade está no homem
quase como a árvore voa
no pássaro que a deixa.

Ferreira Gullar



Evoé! e muita Lu(i)z...



Flávia Marquetti



domingo, 20 de junho de 2010

Sai de Si (Cia Arte & Performance - Araraquara / SP)

Foto: Fabricio Guerreiro/Assesoria


A proposta da Cia Arte & Performance tinha a irreverência e frivolidade do contemporâneo que apontei como falta na apresentação da Ditirambo Cia de Dança Contemporânea, mas infelizmente a resolução cênica não atingiu o esperado.
Quando se fala de frivolidade na arte contemporânea está se falando de propostas que não coloquem a arte num pedestal, como a da Cia Arte & Performance, de explorar o banheiro e suas várias funções na vida do homem, mas isso não quer dizer que se deva esquecer a qualidade do produto. Faltou além de técnica, uma melhor amarração entre a idéia original, seus desdobramentos e um aprofundamento no tema. As cenas de dança não contribuem em nada para o texto, algumas boas piadas que poderiam ter surgido, como no caso dos escritos de banheiro, ficaram prejudicadas pelo fato de a platéia não conseguir ler o texto, coisa banal de se resolver, já que se usou recursos de mídia; o mesmo ocorre com a cena de convidar uma jovem da platéia para ir ao banheiro, é notório que as mulheres vão em grupo ao banheiro, mas parou aí a idéia, ela não teve uma continuação, poderia ter sido feita uma conversa lá atrás na coxia que o público estaria ouvindo, e, finalmente, se revelaria o porquê delas irem juntas ao banheiro e assim outras tantas coisinhas que ficaram sem o acabamento e o desenvolvimento necessário para que Sai de Si justificasse o título.
Um banheiro bem família, tirando a morte, não vimos ninguém se drogar, amar, se prostituir e tantas outras coisas que ocorrem em banheiros, mesmo o ato de despir-se, que é mais característico de todo e qualquer banheiro ficou a meio termo, comportadamente vestido, entendo que na fragilidade do espetáculo apresentado não caberia a nudez, mas então, porque fazer referência a ela. Em suma, ninguém saiu de si neste espetáculo, quem sabe em um próximo o espetáculo ganhe novos contornos, melhores textos e sai de si realmente.
Em tempo, existem alguns achados muitos bons, como a sequência de imagens de banheiros, a escolha da indumentária e elementos cenográficos, ou ainda o de cantar sob o chuveiro com as toquinhas de banho, mas por hora, são só isso, achados. Uma pena.

Flávia Regina Marquetti

2 comentários:

  1. Flávia Deusa Marquetti esqueceu de um "achado" sensacional: nado sincronizado nas privadas!!!!!!!!

    Eu adorei!!!

    O que não gostei foi pq achei cansativo... o momento de montar os ladrilhos... mto demorado...

    eu li mto bem os escritos atrás das portas ("se as meninas do leblon não olham mais pra mim: EU TO DE ÓCULOS!"), e a Sabrina canta mtooooooooooooooo mal... grande momento do espetáculo!

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  2. Gostei muito deste espetáculo. Achei cabível, interessante e cômico, guardadas proporções, ao contrario do que a critica se posicionou, "um tanto descartável". Acredito que o público se divertiu e muito mais que isso, se imaginou em situações onde estariam como possíveis protagonistas e isso é algo totalmente assertivo. Não foi falado também da trilha sonora que está muito boa, de muito bom gosto. Como deixar passar em branco o momento da clássica “time of my life”? Fala sério! Acredito que houve falhas sim e as propostas sugeridas pela crítica são muito interessantes também, porém, deve-se levar em conta a identidade do grupo e seu poder de criatividade, sua constituição e construção própria, talvez não fosse tão necessário “continuar” a cena da moça com a amiga no banheiro. Foi uma estréia, uma pré-estréia. Muita coisa deve melhorar ainda. Mas o que não dá para dizer é que fora algo cru e sem sentido, pois não foi. Inúmeras vezes, a platéia sentiu sede de aplaudir, se divertiu bastante, ficou instigada. A idéia também é muito boa, diferente.
    Desabrochem!

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