Prólogo

O ATOR E AS CIDADES

O homem está na cidade
como uma coisa está em outra
e a cidade está no homem
que está em outra cidade

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A arte do ator é feita de chegadas e partidas, a cada cidade uma nova experiência, em cada uma ele deixa um pouco de si e leva um pouco de tudo: rostos, risos, lágrimas, histórias, vivências, sensações. O trânsito, a mobilidade é a pátria do despatriado ator, vagar entre culturas, costumes e tempos diferentes é sua sina e paixão, pois ele se compõe e recompõe de cada momento. Tolo é aquele que pensa que a arte morre, tem seu lugar determinado por marcas geográficas, por cronologias... a arte foge de todo e qualquer enquadramento, não cabe no mapa, pois é cigana, não (re)conhece fronteiras, ela se constitui a partir do trânsito, do vagabundear do ator, seu veículo. Em sua carne e expressões ela ganha corpo e reflete os rostos de todos os homens de todos os tempos, arguta e criativa, ela mimetiza o mundo e esse seu habitante conturbado, o Homem e é adsorvida por ele.

A 24ª Semana Luiz Antônio traz a criativa itinerância que brota da releitura de grandes clássicos, de personagens que vagaram pelo mundo e foram incorporando os novos tempos, as novas cidades e estéticas. Em seus corações pulsam as lembranças da origem, mas em suas vestes o novo, o arrojado trânsito por locais insondáveis. E como diz o poeta:


a cidade está no homem
quase como a árvore voa
no pássaro que a deixa.

Ferreira Gullar



Evoé! e muita Lu(i)z...



Flávia Marquetti



sábado, 26 de junho de 2010

CÂNDIDA (Bia Seidi e Núcleo Experimental – SP/RJ)

Foto: Fabricio Guerreiro/Assesoria
O espetáculo, Cândida, do Núcleo Experimental trouxe aos palcos da XXII Semana Luiz Antônio um texto do século XIX, de Bernard Shaw, autor que sabe explorar os diálogos entre as personagens, construindo um jogo dialético entre as diversas facetas sociais por eles representadas.
Ambientado na Inglaterra Vitoriana, quando a explosão industrial tem lugar, Cândida discute o papel da mulher em uma sociedade burguesa e patriarcal, e que vê surgir novas doutrinas, como a Socialista. Os conflitos desencadeados entre os discursos, ideais pregados pelas personagens e suas ações é o ponto central para que Shaw desenvolva sua trama.
Com montagem que recupera o teatro tradicional, quase esquecido nesses tempos de experimentações, Cândida busca recuperar o universo vivenciado por Shaw, com cenário e figurinos de época, só inovando na apresentação das rubricas em cena. Um espetáculo correto, embora um pouco frio. Destaque para Fernanda Maia, no papel de Prosérpina, uma divertida secretária.


Flávia Regina Marquetti

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