Prólogo

O ATOR E AS CIDADES

O homem está na cidade
como uma coisa está em outra
e a cidade está no homem
que está em outra cidade

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A arte do ator é feita de chegadas e partidas, a cada cidade uma nova experiência, em cada uma ele deixa um pouco de si e leva um pouco de tudo: rostos, risos, lágrimas, histórias, vivências, sensações. O trânsito, a mobilidade é a pátria do despatriado ator, vagar entre culturas, costumes e tempos diferentes é sua sina e paixão, pois ele se compõe e recompõe de cada momento. Tolo é aquele que pensa que a arte morre, tem seu lugar determinado por marcas geográficas, por cronologias... a arte foge de todo e qualquer enquadramento, não cabe no mapa, pois é cigana, não (re)conhece fronteiras, ela se constitui a partir do trânsito, do vagabundear do ator, seu veículo. Em sua carne e expressões ela ganha corpo e reflete os rostos de todos os homens de todos os tempos, arguta e criativa, ela mimetiza o mundo e esse seu habitante conturbado, o Homem e é adsorvida por ele.

A 24ª Semana Luiz Antônio traz a criativa itinerância que brota da releitura de grandes clássicos, de personagens que vagaram pelo mundo e foram incorporando os novos tempos, as novas cidades e estéticas. Em seus corações pulsam as lembranças da origem, mas em suas vestes o novo, o arrojado trânsito por locais insondáveis. E como diz o poeta:


a cidade está no homem
quase como a árvore voa
no pássaro que a deixa.

Ferreira Gullar



Evoé! e muita Lu(i)z...



Flávia Marquetti



sábado, 26 de junho de 2010

FESTA DA SEPARAÇÃO. Um Documentário Cênico (Janaina Leite e Fepa – SP)

Tocante, envolvente, inusitado e, sobretudo, corajoso, este foi o “Documentário Cênico” apresentado por Janaina Leite e Fepa. Pensado a partir da separação real do casal, Janaina e Fepa, a peça é o relato da experiência vivida por ambos ao decidirem se separar e nas festas que deram para os amigos na época. Buscando um ritual que equivalesse aos que cercam a união, o casamento, Festa da Separação nos propõe uma discussão sobre os relacionamentos no mundo de hoje.
Bem humorado, contando com vídeos feitos pelo casal em diversas fases da união e da separação, com músicas, trechos de filmes, de livros, de conferências, de depoimentos dos amigos, e de tudo o mais que cerca esse universo comum e, ao mesmo tempo, em cisão. Festa da Separação é ambientada em um espaço também cindido, há dois lados, o dele e o dela, (tanto no palco quanto na platéia), o dele recebe na entrada cachaça, o dela bombom sonho de valsa, dialogando simultaneamente com a platéia os atores constroem o prólogo, nos fazendo lembrar os momentos iniciais das separações, quando cada qual procura seu grupo para desabafar, contar o que houve e buscar apoio.
No palco (não convencional) vemos as coisas dele e as dela, as lembranças que cada qual guardou da relação e de suas vidas, intimista, o espetáculo cria uma cumplicidade com o espectador deliciosa. Muitos ao meu lado chegaram às lágrimas nos momentos mais intensos. Corajosamente os atores expõem suas vidas, seus sentimentos, suas dores nos fazendo rever os nossos conceitos de amor, união e separação.
Uma belíssima peça, feita na raça, em muitos sentidos, sobretudo hoje, pois Fepa caiu à tarde e rompeu os ligamentos do joelho e mesmo com dor e mancando fez o espetáculo... dizem que ele não é ator, mas músico, acredito que a partir de hoje ele mereça sim ser considerado um ator, pois só alguém que ama o palco faz isso.


Flávia Regina Marquetti

2 comentários:

  1. Sugestão para este blog!

    Meus caros:
    já que essa idéia bacana de ter o blog da SEMANA, sugiro que se faça um trabalho de regaste, digitalizando e postanto, minimamente a programação, alguns textos e fotos das outras semanas que passaram, já que este documento virtual conta a saga de Araraquara frente a um luta de cultural iumportante para sua história!!
    Abraços a todos

    Lauro Monteiro

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  2. Sensacional! Deliciosamente envolvente! Quero ver novamente... agora do outro lado (já tomei a cachaça, quero o sonho de valsa!).

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