Segundo Nietzsche, todos os homens são uma ilha, isolados em seus mundos e incomunicáveis, este é o ponto de partida de IN ON IT, mas em sua estrutura muito bem desenhada, como a luz e a marcação cênica, encontramos intersecções (pontes) entre esses círculos/ilhas que compõem os encontros e desencontros das personagens.
Com um cenário limpo, só recortado pela luz, dez personagens constroem uma teia delicada de relações. Em nenhum momento a cena é óbvia, embora possa parecer de uma simplicidade quase pueril, mas é necessário que o espectador triplique a atenção para poder fruir esse jogo que é desenhado na luz, que abre e fecha focos circulares, cria quadrados que vão do branco ao vermelho, todos plenos de significados para a cena. A marcação dos atores obedece à mesma orquestração, a palavra contracenar ganha novo sentido nos corpos e gestos desses dois esgrimistas, ora quebrando com as convenções do que estamos acostumados a ver, ora dentro de um naturalismo tradicional.
É quase impossível detalhar os pormenores, ou isolar uma cena, pois cada segundo, cada gesto tem um contorno próprio, mesmo que os vejamos repetidos mais adiante, são outros, embora os mesmos e é esse o segredo de IN ON IT, ser muitas peças em uma só, ser o conflito de vários personagens em um. Múltiplo e uno; perfeito no todo, mas deliciosamente fragmentário; quase uma divindade que nos toca e nos leva ao êxtase, só assistindo para sabê-lo.
Flávia Regina Marquetti
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