O espetáculo d’Os Satyros, Hipóteses para o Amor e a Verdade, poderia também se chamar Ensaio para a Solidão, digo isso porque em meio à grande ”parafernália” eletrônica utilizada na peça fica evidente a dor, a solidão e o desejo de amor do Homem.
Com um espetáculo interativo, que brinca com o público e seus celulares, que joga com a internet e seus chats e sites de pornografia ou de relacionamentos, o grupo soube aproveitar os diversos meios de comunicação para ilustrar a incomunicabilidade.
Mesclando momentos de profunda tensão, como na cena da prostituta embalada por papel filme pelo cliente apaixonado, que quase a asfixia para que diga o que quer; a cenas divertidas, como a da travesti que é guia turística das micro-realidades (deliciosa), a do gerente de fábrica que se confessa amante da luxúria, a peça não chega a ser distensa, pois mesmo nestes momentos mais leves, em que o riso brota, o texto é denso, os corpos, os gestos mostram a urgência desses personagens em se sentirem vivos num espaço que cada vez mais perde a humanidade.
Com o cenário composto por computadores, telões, manequins pintados e suspensos por correntes e até uma singela cortina de argolinhas, muito funcional, por sinal, os espectadores são convidados a se misturarem a esse mundo do centro velho de São Paulo, compondo junto com os personagens um mundo estranho, no qual ninguém ama ninguém e nem se comove com nada, mas que toca, incomoda, enternece. Um belíssimo espetáculo e reflexão sobre o homem, ou como querem os Satyros, o pós-homem.
Quase me esquecia, o detalhe delicado do bilhete em pedacinho de papel que o gerente de fábrica oferece ao público, com exceção dos escolhidos e seus mais próximos, não ficamos sabendo o que está escrito nele e isso é o melhor, pois cada um de nós escreveu ali alguma palavra ou mensagem que talvez oferecesse ao outro.
Flávia Regina Marquetti
muito bom ....
ResponderExcluirFoi uma pena que tanta gente, com sede, DE FATO, de apreciar "Os Satyros" não pouderam participar. NãO tenho duvida alguma de que foi um grande espetáculo e mais que isso uma daquelas viagens por dimensoes estranhamente exploradas mas facilente reconhecidas.
ResponderExcluirFica a dica para os secretários e senhores da cultura de Araraquara.