Prólogo

O ATOR E AS CIDADES

O homem está na cidade
como uma coisa está em outra
e a cidade está no homem
que está em outra cidade

.....................................

A arte do ator é feita de chegadas e partidas, a cada cidade uma nova experiência, em cada uma ele deixa um pouco de si e leva um pouco de tudo: rostos, risos, lágrimas, histórias, vivências, sensações. O trânsito, a mobilidade é a pátria do despatriado ator, vagar entre culturas, costumes e tempos diferentes é sua sina e paixão, pois ele se compõe e recompõe de cada momento. Tolo é aquele que pensa que a arte morre, tem seu lugar determinado por marcas geográficas, por cronologias... a arte foge de todo e qualquer enquadramento, não cabe no mapa, pois é cigana, não (re)conhece fronteiras, ela se constitui a partir do trânsito, do vagabundear do ator, seu veículo. Em sua carne e expressões ela ganha corpo e reflete os rostos de todos os homens de todos os tempos, arguta e criativa, ela mimetiza o mundo e esse seu habitante conturbado, o Homem e é adsorvida por ele.

A 24ª Semana Luiz Antônio traz a criativa itinerância que brota da releitura de grandes clássicos, de personagens que vagaram pelo mundo e foram incorporando os novos tempos, as novas cidades e estéticas. Em seus corações pulsam as lembranças da origem, mas em suas vestes o novo, o arrojado trânsito por locais insondáveis. E como diz o poeta:


a cidade está no homem
quase como a árvore voa
no pássaro que a deixa.

Ferreira Gullar



Evoé! e muita Lu(i)z...



Flávia Marquetti



segunda-feira, 18 de junho de 2012

...OLHEM OUTRA VEZ



A intervenção da atriz e bailarina Sabrina Kelly realizada na Rua São Bento explorou a “invisibilidade” que algumas pessoas têm na cidade, como os andarilhos e pedintes. Caracterizada como mendiga, Sabrina ocupou o espaço em frente à Casa de Cultura, para pedir esmolas, ou melhor, caridade. Há aí uma sutil diferença, como diz o texto que ela interpreta após ganhar a moedinha do passante distraído. As pessoas, sem a olhar de fato, pois perceberiam que não era uma mendiga, às vezes recusavam a ajuda, outras a davam distraidamente e só quando ela oferecia o poema como retribuição... olhavam-na de fato e compreendiam, finalmente, que ali não havia alguém invisível, mas um ser humano que mais que uma moeda, buscava a atenção para uma condição social. O título da intervenção casa perfeitamente com a proposta da atriz, fazer com que as pessoas olhem para aqueles que estão à margem e não lhes dê apenas uma moeda e sim caridade: “boa disposição do ânimo para com todas as criaturas”. Bela intervenção e como tem sido a tônica da 24ª Semana Luiz Antônio, conjuga a figura do Ator com a criatividade e o vagar, o transitar pela cidade.

Flávia Marquetti


Fotos: Lívia Cabrera

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seguidores