Prólogo

O ATOR E AS CIDADES

O homem está na cidade
como uma coisa está em outra
e a cidade está no homem
que está em outra cidade

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A arte do ator é feita de chegadas e partidas, a cada cidade uma nova experiência, em cada uma ele deixa um pouco de si e leva um pouco de tudo: rostos, risos, lágrimas, histórias, vivências, sensações. O trânsito, a mobilidade é a pátria do despatriado ator, vagar entre culturas, costumes e tempos diferentes é sua sina e paixão, pois ele se compõe e recompõe de cada momento. Tolo é aquele que pensa que a arte morre, tem seu lugar determinado por marcas geográficas, por cronologias... a arte foge de todo e qualquer enquadramento, não cabe no mapa, pois é cigana, não (re)conhece fronteiras, ela se constitui a partir do trânsito, do vagabundear do ator, seu veículo. Em sua carne e expressões ela ganha corpo e reflete os rostos de todos os homens de todos os tempos, arguta e criativa, ela mimetiza o mundo e esse seu habitante conturbado, o Homem e é adsorvida por ele.

A 24ª Semana Luiz Antônio traz a criativa itinerância que brota da releitura de grandes clássicos, de personagens que vagaram pelo mundo e foram incorporando os novos tempos, as novas cidades e estéticas. Em seus corações pulsam as lembranças da origem, mas em suas vestes o novo, o arrojado trânsito por locais insondáveis. E como diz o poeta:


a cidade está no homem
quase como a árvore voa
no pássaro que a deixa.

Ferreira Gullar



Evoé! e muita Lu(i)z...



Flávia Marquetti



domingo, 17 de junho de 2012

FELINÍCIAS: O CASAMENTO FELIZ DE DUAS LINGUAGENS

Para os apaixonados por cinema e teatro, Felinícias – Histórias de Amor e Clowns, do Grupo UEBA Produtos Notáveis, foi um presente. Tendo, literalmente, como pano de fundo a obra do diretor italiano Federico Fellini, com suas músicas, personagens tragicamente ingênuos e arrastados pelos desencontros da vida, e cenas de filmes dirigidos por Fellini e por Ettore Scola (O Baile), os dois atores do UEBA, preencheram todo o palco do Teatro Municipal. 
A alquimia buscada pelo grupo fundiu em uma cena despojada: atores e projeções de vídeos, recuperando a inocência do cinema mudo e aliando-a a simplicidade dos Clowns. Ora com cenas de filmes ora com filmagens feitas pelo próprio grupo, ou imagens divertidamente escolhidas para insinuar o erotismo da ação, como era frequente no cinema da década de 30 e 40, Felinícias resgatou a magia poética da narrativa simples, previsível (até certo ponto), dessas duas linguagens, mas por isso mesmo delicada e emocionante, pois que nos toca a partir da lembrança de um mundo menos complexo, mais gentil, quase infantil em sua alegre expressão. 
Como já haviam demonstrado ontem, na abertura da SLAMC, os atores, afinados, possuem sincronia e cumplicidade em cena, usando apenas duas cadeiras e alguns objetos, a dupla recuperou o universo felliniano com deliciosas soluções, como as dos guarda-chuvas ou a chuva final, de arroz, novamente criativos e plasticamente perfeitos. 
Flávia Marquetti





Fotos: Lívia Cabrera

3 comentários:

  1. Eu amei essa linha que eles apresentaram do Teatro mudo, os estudos de Federico Fellini
    Eles tem uma sincronia muito boa entre vídeo e palco fantástico !
    O grupo me surpreendeu trabalhando duas linhas totalmente diferentes uma da outra
    Na abertura com "O Bom Quixote-Delírio Urbano" que é teatro de rua e "Felinícias" teatro mudo
    E aqui vai mais um UEBA para o grupo ! hehehe

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  2. A chuva de arroz foi algo que eu nunca pensaria na minha vida. SHOW!

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