Prólogo

O ATOR E AS CIDADES

O homem está na cidade
como uma coisa está em outra
e a cidade está no homem
que está em outra cidade

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A arte do ator é feita de chegadas e partidas, a cada cidade uma nova experiência, em cada uma ele deixa um pouco de si e leva um pouco de tudo: rostos, risos, lágrimas, histórias, vivências, sensações. O trânsito, a mobilidade é a pátria do despatriado ator, vagar entre culturas, costumes e tempos diferentes é sua sina e paixão, pois ele se compõe e recompõe de cada momento. Tolo é aquele que pensa que a arte morre, tem seu lugar determinado por marcas geográficas, por cronologias... a arte foge de todo e qualquer enquadramento, não cabe no mapa, pois é cigana, não (re)conhece fronteiras, ela se constitui a partir do trânsito, do vagabundear do ator, seu veículo. Em sua carne e expressões ela ganha corpo e reflete os rostos de todos os homens de todos os tempos, arguta e criativa, ela mimetiza o mundo e esse seu habitante conturbado, o Homem e é adsorvida por ele.

A 24ª Semana Luiz Antônio traz a criativa itinerância que brota da releitura de grandes clássicos, de personagens que vagaram pelo mundo e foram incorporando os novos tempos, as novas cidades e estéticas. Em seus corações pulsam as lembranças da origem, mas em suas vestes o novo, o arrojado trânsito por locais insondáveis. E como diz o poeta:


a cidade está no homem
quase como a árvore voa
no pássaro que a deixa.

Ferreira Gullar



Evoé! e muita Lu(i)z...



Flávia Marquetti



domingo, 26 de junho de 2011

BATE LATA E VIRA LATA


Eu poderia desfiar um rosário de bons adjetivos para expressar a qualidade do trabalho da Cia Tárcio Costa. Eu já tinha ficado encantado com o que tinha visto em vídeo. Pensei na ocasião em como Araraquara tem sorte de poder contar com um trabalho como o que Tárcio Costa conduz.

Durante muito tempo colaborei na seleção de espetáculos para o Festival Nacional de Teatro Infantil de Blumenau... Ainda que muita coisa, bons grupos, bons artistas, boa dramaturgia, grandes direções circulem pelo universo disso que chamamos teatro infantil, não são exatamente bons trabalhos que alimentam o comum desse teatro. Tárcio Costa tem luz própria nesse universo.

Inteligente. Muito inteligente. Sensível. Muito sensível. Criativo. Muito criativo. Interativo. Muito interativo... Tudo isso e muito mais desenha o perfil do Bate Lata e Vira Lata que vimos esta tarde. Três músicos/atores puderam demonstrar com habilidade a máxima de Bertolt Brecht de que falamos no início da Semana Luiz Antônio: a de “há muitos objetos em um só objeto”, inclusive sonoros, musicais... Baldes, garrafas, chinelos são objetos que o talento de Tárcio Costa transformou em instrumentos musicais com a colaboração de Raquel Nascimento e Luiz Carlos Ferreira (músicos/atores).

Direção, texto e canções eficientes... Certamente que ao ar livre apresentação do grupo é diferente de uma apresentação em um palco de teatro. Mas, nem por isso menor... Ficamos sem a iluminação de Rodrigo de Prince (que estava no som, creio), mas em cena estavam as cores dos figurinos de Marilaine de Souza... Vale dizer ainda, que o empenho dos atores numa tarde que nos brindava com um vento frio, foi louvável (tanto quanto a permanência do público). Assim, ali na pequena Praça do Daae, as crianças e adultos presentes puderam descobrir participando, experimentando e brincando, que em tudo existe música... Porque música se faz com tudo.

Eduardo Montagnari

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