Prólogo

O ATOR E AS CIDADES

O homem está na cidade
como uma coisa está em outra
e a cidade está no homem
que está em outra cidade

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A arte do ator é feita de chegadas e partidas, a cada cidade uma nova experiência, em cada uma ele deixa um pouco de si e leva um pouco de tudo: rostos, risos, lágrimas, histórias, vivências, sensações. O trânsito, a mobilidade é a pátria do despatriado ator, vagar entre culturas, costumes e tempos diferentes é sua sina e paixão, pois ele se compõe e recompõe de cada momento. Tolo é aquele que pensa que a arte morre, tem seu lugar determinado por marcas geográficas, por cronologias... a arte foge de todo e qualquer enquadramento, não cabe no mapa, pois é cigana, não (re)conhece fronteiras, ela se constitui a partir do trânsito, do vagabundear do ator, seu veículo. Em sua carne e expressões ela ganha corpo e reflete os rostos de todos os homens de todos os tempos, arguta e criativa, ela mimetiza o mundo e esse seu habitante conturbado, o Homem e é adsorvida por ele.

A 24ª Semana Luiz Antônio traz a criativa itinerância que brota da releitura de grandes clássicos, de personagens que vagaram pelo mundo e foram incorporando os novos tempos, as novas cidades e estéticas. Em seus corações pulsam as lembranças da origem, mas em suas vestes o novo, o arrojado trânsito por locais insondáveis. E como diz o poeta:


a cidade está no homem
quase como a árvore voa
no pássaro que a deixa.

Ferreira Gullar



Evoé! e muita Lu(i)z...



Flávia Marquetti



sábado, 19 de junho de 2010

è.Change (Ditirambo - Araraquara / SP)

è.change
O segundo espetáculo da noite de abertura da Semana Luiz Antônio, è.change, da Ditirambo Cia de Dança Contemporânea, trouxe uma homenagem à diretora, bailarina e coreógrafa Pina Bausch, com forte referência ao Cabaret Müller, propõe uma reflexão sobre as “trocas” afetivas.
Estreiando o espetáculo na Semana, a Ditirambo, mostra a busca por uma linguagem corporal que expresse as novas relações do homem, aliando a esta um texto didático/explicativo sobre as novas propostas de relacionamentos.
Sem o amadurecimento que o espetáculo deve atingir, a Ditirambo, esboça algumas ousadias, mas ainda sem a convicção do gesto profundamente refletido, como quando os bailarinos exploram o obsceno, muito sutil, ficando a meio termo entre o choque e o aceitável.
Talvez uma boa dose de humor e fina ironia contribua para que o espetáculo ganhe o ar contemporâneo buscado pela Ditirambo, pois como muito bem falou o prof. Jorge Coli, em sua palestra no Território da Arte, uma das grantes propostas da arte comtemporânea é a frivolidade, o não se levar a sério a arte, ela, como todo o resto (e aí entra a proposta dos relacionamentos modernos) é ganho, está ligada ao mercado. O texto lido durante a apresentação explora exatamente isso, mas faltou essa frivolidade no trato dos corpos, ainda muito sérios e crentes na transcendência dessa arte.
è.change tem um belo caminho à sua frente e tenho certeza que o espetáculo ainda vai crescer muito.
Flávia Regina Marquetti

Foto: Fabricio Guerreiro/Assesoria

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Como bailarina da Ditirambo concordo com as palavras e sinto que este é o caminho.
    Com certeza, o espetáculo ainda crescerá muito.
    Obrigada a todos que compareceram em plena meia-noite de sexta-feira.
    Lilian Penteado
    www.ciaditirambo.blogspot.com

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