O ator usa de seu corpo, de seus sentimentos, de seu sangue para dar vida a um personagem e cruzar sua existência à nossa, mais do que divertir, ele quer capturar a vida no que ela tem de mais intenso, de mais belo e de mais terrível, as relações entre os homens, seus desejos, suas angústias, suas alegrias, seus preconceitos, em suma, tudo o que faz com que sejamos SERES HUMANOS, falíveis e encantadores, pois só o que é falível, imperfeito pode enternecer, a perfeição é exclusividade de Deus e de sua eternidade, sempre igual a si mesmo.
O mais belo no teatro, o que faz com que nos emocionemos é a irremediável certeza do Humano, tanto no que diz respeito ao personagem quanto ao ator, ao contrário de todas as outras artes que usam da tecnologia como mediadora, o teatro nos permite ver ali, ao alcance da mão, em carne e osso, o personagem pulsando no sangue do ator. Essa presença física desses dois universos humanos tão distintos e tão reais, personagem e ator, fundidos em um momento único, que não se reproduzirá jamais, a não ser ali, naquelas poucas horas, com aquela platéia, naquele dia, pois cada espetáculo, embora o mesmo, é outro, é diferente, é marcado pelo inefável, pelo humano.
Benditos sejam os atores que se despem de si para viver o Outro e nos permitem viver com eles esse Outro, cruzamentos e encantações... a possessão de Dioniso – Evoé a todos que partilharam esta XXII Semana de LU(I)Z.
Flávia Regina Marquetti
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